Para posicionar o Brasil na vanguarda das redes móveis de sexta geração, o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) criou o programa Brasil 6G. Coordenado pela RNP e executado pelo Instituto Nacional de Telecomunicações (INATEL) em parceria com o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPQD) e diversas universidades, o programa busca evitar os problemas enfrentados com a chegada do 5G ao Brasil. A tecnologia não estava adaptada à realidade brasileira, exigindo estudos adicionais, o que atrasou sua adoção.
“O Brasil não sabia o que fazer com o 5G porque não tivemos incentivos para estudos, simplesmente se aceitou o que veio de fora. A tecnologia não era adaptada ao cenário brasileiro e não levava em consideração aspectos como relevo, temperaturas ou mudanças geográficas, o que gerou a necessidade de mais pesquisas”, explicou Fernando Farias, coordenador de Pesquisa e Desenvolvimento da RNP.
Farias faz parte da equipe de pesquisadores que trabalha para preparar o Brasil para a futura tecnologia de conexão móvel à internet. A previsão é que essa nova rede móvel comece a funcionar em cerca de seis ou sete anos, mas desde 2022 o país já se antecipa. Na época, o 5G ainda começava a funcionar no Brasil, então havia pouca informação sobre como seria uma evolução da tecnologia.
“O principal desafio foi dar o pontapé inicial e organizar as ideias sobre o que seria a arquitetura do 6G. Depois da fase 1, conseguimos organizar essa arquitetura e definir as principais tecnologias que a habilitariam”, explicou Farias.
Uma das principais mudanças do 6G é o aumento significativo de velocidade de conexão à internet. A tecnologia poderá alcançar velocidades de 1 a 100 Gbps, e teoricamente 1Tbps, em comparação com o limite de 1 Gbps do 5G. Essa mudança permitirá a integração de novos usuários, recursos e aplicações.
“À medida que se amplia essa banda, aumenta a possibilidade de integrar não só novos clientes, mas também novas tecnologias. Isso permitirá oferecer novas aplicações”, aponta Farias, acrescentando que o 6G não será desenvolvido apenas para clientes de tecnologia móvel (usuários de celulares). “Indústrias, fazendas e outros setores também usarão o 6G, devido à ampliação dos recursos”.
A primeira fase do programa durou até 2022 e discutiu o modelo de arquitetura da nova rede, as principais tecnologias habilitadoras e os principais usos. Em seguida, os pesquisadores entraram na segunda fase do projeto, prevista para terminar em julho deste ano, que focou em entender como essa evolução da conexão móvel funcionará e na construção de um ambiente de testes (testbed) de uma tecnologia que ainda não existe. Os testes foram realizados em um modelo de fazenda inteligente.
“Embora ainda não existam equipamentos no mercado para suportar o 6G, começamos a construir um testbed que trabalha com várias tecnologias do 5G, mas com arquitetura de gerência e software pré-6G. Isso para ter uma ideia de como elas funcionarão daqui a seis, sete anos. Nós tínhamos perto do INATEL uma fazenda-modelo onde foram feitos vários testes. O grande desafio foi entender a tecnologia e seu alcance”, afirmou Fernando Farias.
Agora, o Brasil 6G se prepara para entrar em sua terceira fase. A ideia é levar o ambiente de testes a outras regiões do Brasil e avaliar aspectos de uma infraestrutura 6G multi-regional. A nova etapa deve ter início na segunda metade deste ano. “O objetivo principal é a expansão desse testbed. Também teremos uma ampliação de recursos de GPU, recursos de cloud e borda, computação de alto desempenho (HPC), antenas, tudo disponível para os pesquisadores trabalharem. A previsão é que ela tenha a duração de dois anos”, concluiu Farias.